quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Resultado de uma longa reflexão: TUDO A MESMA MERDA!

Já faz um tempão que devemos respostas para algumas perguntas e demandas que recebemos pelo blog. Afinal, ele não foi criado para ser um canal de informações sobre o processo de imigração para o Québec, mas para traduzir como dois brasileiros gays – que vieram para cá como um casal reconhecido pelo governo – percebem a vida por aqui. O Érico, por exemplo, pediu que eu (Gilberto) soltasse mais a língua ou melhor dizendo, os dedos. O Fernando derivou o pedido, dizendo que eu poderia traduzir emoções vividas em palavras. Não preciso dizer que ele é filósofo né gente? A sumida Manu, que nunca mais deu o ar da graça, perguntou se já tínhamos experimentado o preconceito por sermos gays, mesmo em uma cidade tão plural quanto Montréal. Já o Wly, e mais uma pá de gente, me pergunta como a vida funciona por aqui.

Após muitas questões acumuladas e muito tempo para pensar sobre elas, eu só tenho uma coisa a dizer: É TUDO A MESMA MERDA! Espero que ninguém aí fique chocado ou ofendido, mas é a pura verdade. Digo isso de boca cheia, sem conotação negativa. É preciso ficar claro que realmente não percebo tanta diferença quando olho para a sociedade quebecoise e a brasileira. Claro, aqui as pessoas parecem estar sempre ocupadas, com ar individualista, ouvindo seus ipods ou conectadas à internet através de seus notebooks. Mas, fora a posição geográfica, as condições climáticas, o contexto histórico e algumas diferenças no sistema eleitoral, no frigir dos ovos tudo é igual. Vou exemplificar para ficar mais fácil...
Aqui existe um negócio chamado accomodement raisonnable, que na minha curta compreensão sociológica dos fatos, eu diria que é uma maneira pacífica e razoável para gerir conflitos gerais, mas principalmente para aqueles de ordem interculturais. Façam as contas comigo... De acordo com o senso canadense, Montréal tinha uma população de quase 3 milhões e 600 mil habitantes, no ano de 2006, sendo que mais de 740 mil eram pessoas provenientes de dezenas de países diferentes. Os top five são Itália, Haiti, França, China e Líbano. Sem falar que por todo canto pode-se escutar gente falando espanhol, inglês e até mesmo português. Me digam vocês, como é que pode ter tanta resolução pacífica assim para interesses tão diferentes? E não é difícil ver no jornal que a gangue dos haitianos entrou em conflito com a dos latinos e por aí vai. Eu e o Renato vimos no Mêtro há umas duas semanas dois negros falando para um árabe (funcionário da bilheteria): “Vai comer falafel árabe infeliz!”. Agora, vai saber o que um disse pro outro para chegar nesse ponto.

Quanto à questão de preconceito contra homossexuais, não podemos dizer que sentimos verdadeiramente qualquer reação negativa, mas outro dia passou um carro aqui na rua cheio de moleques gritando com as bichas do Village. Mas isso foi uma vez em quase sete meses por aqui, e um gritinho é o máximo que eles podem fazer contra 11% da população montrealense, também segundo dados oficiais. Em geral, as pessoas fazem assim, se elas não gostam, elas ficam caladas, mas depois, comentam entra elas e dividem seus demônios. O que é um ato civilizado, pois ninguém é obrigado a gostar ou participar, mas respeitar é dever de todos.
Agora, a hipocrisia também tem lugar garantido aqui na América do Norte. No meu trabalho mesmo, se o chefe está por lá, todo mundo arranja um jeito de ficar ocupado, de parecer mais eficiente e de contar vantagem de que está fazendo isso ou aquilo, no mais descarado auto-marketing. E quando ele dá as costas, o povo relaxa igualzinho a muita repartição pública brasileira. E aí daquele que não está presente, pois vira bola da vez das críticas e fofocas dos outros... risos... O que será que eles falam de mim?

E para fechar a lista de exemplos que desmistificam que as coisas por aqui são 100% perfeitas, segue um último caso...

Logo, logo eu vou fazer minha prova de condução veicular no “Detran” daqui. E tenho que admitir que estou com bastante medo, pois muita gente diz que é super-difícil conseguir passar na primeira vez, pois além das pequenas diferenças no estilo de dirigir, eles são muito rígidos em relação às regras. Ok! O que eu decidi fazer então? Tomar aulas na auto-escola. Fui a algumas delas para saber o que tinha que fazer, pois a carteira de identificação que ganhei após a prova teórica não me dá esse direito. BOBAGEM, eles disseram que isso não é verdadeiramente um problema e já tive uma das duas aulas que contratei, fazendo o percurso da prova, em um caminho repleto de outras pessoas fazendo o teste, com a presença de fiscais. Pode???

Depois, quando eu escrevo que as coisas não são tão “especiais” assim, que não sentimos grandes diferenças de nossa terra natal para cá, as pessoas podem pensar que estamos “tirando onda”. Na verdade, não posso negar que Montréal é uma cidade repleta de qualidades, assim como o Québec e o próprio Canadá. A economia forte, a qualidade do serviço público e da educação, o respeito ao próximo, ao diferente, a beleza da natureza, bem como a liberdade e a segurança que experimentamos, não têm igual. Mas, como eu disse, é tudo a mesma merda, pois o problema é um só: onde existe o ser humano, existe espaço para erros, mas também para os acertos. E a grande mágica da vida é tentar se reinventar a cada dia e buscar um mundo melhor... ao menos para aquele que está ao nosso redor. Não é mesmo?

Um grande abraço.

Gilberto Evangelista (Ah! O Renato revisou e deu dicas de ouro dessa vez.)

4 comentários:

Marcelo Belico disse...

... E como é a cidade underground? Outro dia vi umas ceninhas sobre Montréal e fiquei curioso da ville subterrânea. Parece um shopping mesmo?

Anônimo disse...

queridosss
venho aqui concordar com vcs :-)
qdo vcs chegarem a usar o sitema de saude...entao!!!vao falar: que saudade do meu convenio do BR!
mas, acho, que independente de tudo, VALE DEMAIS A EXPERIENCIA...conhecer novas culturas, aprender duas ou mais linguas, estudar...
conheci numa festa ha alguns fds atras, o Rafael e ele me disse a definicao de um amigo dele, que eu achei A MELHORRRRRRRRRR...hehe:
" Morar no EXTERIOR eh o MAXIMO, mas eh uma MERDA...
" Morar no BRASIL eh uma MERDA, mas eh o MAXIMO..."
hehe...eh isso, todos os lugares tem seus problemas, coisas boas...E acredito que dpois de 1...2....3...anos aqui, nao vamos nos sentir mais "PERTENCENTES" nem la e nem aqui....isso eh que eh o pior...rs
estaremos la...pensando nas coisas boas daqui...e aqui, lembrando das coisas boas de lah...Eh a vida que escolhemos de IMIGRANTES!
beijossss
De-Montreal

alinecjc disse...

Amei a foto da Merda!!!
Hahahaha
Beijos!!!

Anônimo disse...

Adoreiiiii...Manda mais notociass!!
bjuuu